O Espírito da Pantera
Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera?
João Guimarães Rosa
Curitiba abriga um centro de Umbanda que conheço desde menina, o Terreiro do Pai Maneco. Em uma noite de Quimbanda, vi a incorporação da tribo Pantera. Ou melhor, senti a sua aproximação. É difícil ver o que acontece no congá e não gosto de subir em banquinhos em meio a rituais. Para quem fica de fora, é difícil ver o que acontece na gira.
Era uma sessão de descarrego complicada e a presença dos felinos foi invocada – me parece que apenas em situações extremas seu sossego é perturbado. A presença destas entidades possui uma força ímpar. Densa, feroz e silenciosa. De olhos fechados, percebi o rumor de passos largos. A pantera não avisa quando vem. Negra como a noite, de rastros invisíveis, custa a aparecer, custa a atacar. Mas quando chega, é de uma vez só. Ninguém segura o bicho. Ninguém domina a fera.
Quando a gira acabou, peguei uma carona com meu amigo Bittencourt, Pai Pequeno do Terreiro, e fiquei sabendo mais sobre a história das panteras na Umbanda. Bitt me contou então que estas entidades são chamadas em momentos difíceis, quando certos espíritos encarnam e relutam em voltar para de onde vieram. As panteras vêm sob o comando do Caboclo Akuan espírito de poucas palavras que, como todo guerreiro de Ogum, não admite fraquezas, limitações ou mentiras. E não suporta injustiças.
Akuan apresenta-se como um jovem guerreiro - corpulento, de cabelos negros e rosto marcado, usando uma fita de algodão vermelho e branco na testa, com uma pena de ave de rapina atrás e, em outras situações, com um cocar multicolorido. Em uma de suas mãos porta a lança e no braço direito carrega a águia mensageira e caçadora. Ao seu lado, está o Caboclo da Pantera - poderosa força auxiliadora. Os guerreiros pantera formam uma falange de espíritos que se mostram nos terreiros como verdadeiras feras. Usam as habilidades do animal para atacar seus inimigos espirituais. O próprio Caboclo Akuan pode se manifestar como o Caboclo da Pantera ou ainda com a força da águia, seu animal totem.
Reproduzo abaixo o ponto do Caboclo da Pantera
João Guimarães Rosa
Curitiba abriga um centro de Umbanda que conheço desde menina, o Terreiro do Pai Maneco. Em uma noite de Quimbanda, vi a incorporação da tribo Pantera. Ou melhor, senti a sua aproximação. É difícil ver o que acontece no congá e não gosto de subir em banquinhos em meio a rituais. Para quem fica de fora, é difícil ver o que acontece na gira.
Era uma sessão de descarrego complicada e a presença dos felinos foi invocada – me parece que apenas em situações extremas seu sossego é perturbado. A presença destas entidades possui uma força ímpar. Densa, feroz e silenciosa. De olhos fechados, percebi o rumor de passos largos. A pantera não avisa quando vem. Negra como a noite, de rastros invisíveis, custa a aparecer, custa a atacar. Mas quando chega, é de uma vez só. Ninguém segura o bicho. Ninguém domina a fera.
Quando a gira acabou, peguei uma carona com meu amigo Bittencourt, Pai Pequeno do Terreiro, e fiquei sabendo mais sobre a história das panteras na Umbanda. Bitt me contou então que estas entidades são chamadas em momentos difíceis, quando certos espíritos encarnam e relutam em voltar para de onde vieram. As panteras vêm sob o comando do Caboclo Akuan espírito de poucas palavras que, como todo guerreiro de Ogum, não admite fraquezas, limitações ou mentiras. E não suporta injustiças.
Akuan apresenta-se como um jovem guerreiro - corpulento, de cabelos negros e rosto marcado, usando uma fita de algodão vermelho e branco na testa, com uma pena de ave de rapina atrás e, em outras situações, com um cocar multicolorido. Em uma de suas mãos porta a lança e no braço direito carrega a águia mensageira e caçadora. Ao seu lado, está o Caboclo da Pantera - poderosa força auxiliadora. Os guerreiros pantera formam uma falange de espíritos que se mostram nos terreiros como verdadeiras feras. Usam as habilidades do animal para atacar seus inimigos espirituais. O próprio Caboclo Akuan pode se manifestar como o Caboclo da Pantera ou ainda com a força da águia, seu animal totem.
Reproduzo abaixo o ponto do Caboclo da Pantera
Ninguém segura o bicho
Ninguém domina a fera,
Porque ninguém pode
Com o caboclo da Pantera
Caboclo não vem,
Vem com o risco do trovão
Mas mandou seu Akuan
Que é o seu guardião
Continuamos a conversa, eu e meu amigo. Comentei sobre meu interesse sobre as pajelanças indígenas algumas histórias que cercam os grandes felinos na mitologia brasileira. Bitt me falou sobre um texto que lhe foi repassado pelo terapeuta e escritor Fernando Bunol que trata do Nahualismo, um conjunto de técnicas mágicas que permitem ao operador transformar-se em animal, práticas vivenciadas por índios do Antigo México, América do Norte e América do Sul. Eis a história:
No Antigo México, os astecas construíram Teotihnuacan, a cidade sagrada onde os homens tornam-se deuses. Havia vários deuses animais e os ritos de passagem eram associados aos animais sagrados. Para este povo Asteca, os graus espirituais iam numa escala, na seguinte ordem:
Purificação no Templo da Mariposa – Quetzalpapalotl. O iniciado deveria ficar enclausurado em si, passando do estado de larva humana ao estado de mariposa, um ser aparentemente frágil mas com o dom de voar. Passado por este primeiro estágio ele iria para o Templo dos Cavaleiros Pantera.
No Templo dos Cavaleiros Pantera, os nativos tinham que dominar seus instintos para vencer a própria sombra, desenvolviam a coragem e a força para combater inimigos humanos e espirituais. Dominavam técnicas de combate e camuflagem, atacando seus inimigos como verdadeiras feras. Todos seus hábitos neste grau eram os de um felino, de uma pantera. Os Cavaleiros Pantera passavam por várias provas de fogo, para depois se tornarem Cavaleiros Águia.
Na purificação do Templo dos Cavaleiros Águia, o aspirante deveria libertar-se dos apegos e dos desejos terrenos para daí alçarem grandes vôos. Exercitavam a visão olhando diretamente para o Astro Rei – O Sol. Faziam longas jornadas espirituais para combater inimigos entrando em seus pensamentos e sonhos. Passando por todas as provas iriam para a câmara secreta de Camazot – o deus Morcego.
Na câmara secreta, o iniciado não podia sentir medo, teria que aprender a sobreviver no escuro para vencer as forças das trevas e ter o domínio sobre os seres da noite. Tendo vencido todas as provas, o guerreiro teria que se tornar criança para desenvolver a pureza e ser digno de subir na Pirâmide do Sol dos Astecas.
O carro deslizava na estrada, eu e Bitt pantereavámos lendas sinuosas. Naquele momento, os pneus do carro negro do meu amigo escorregavam como o veludo de grandes patas, em alta velocidade. Em um saltar de olhos, vimos o manto da onça azul bordando o céu e trocamos um olhar cúmplice e silencioso. Os dias de lua negra prometem.
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