13 DE MAIO – DIA DOS PRETOS VELHOS!
Para todos aqueles que se interessam pela Sagrada Umbanda, irei tecer algumas considerações sobre a Linha dos Pretos Velhos.
Pretos Velhos
Apesar de toda a história de dor, injustiça e sofrimento enfrentado pelos negros no Brasil, após passarem pela sofrida expiação, desencarnaram e alcançaram a evolução.
Foram acolhidos por Zambi e Oxalá na Aruanda e hoje em dia baixam em nossos terreiros, trazendo a paz, a sabedoria e, principalmente, ensinando-nos a importância do amor ao próximo, da humildade e da caridade.
Devemos aos pretos velhos todos os conhecimentos dos Orixás, pois o culto à Eles nasceu no continente africano.
Devemos aos pretos velhos todos os conhecimentos dos Orixás, pois o culto à Eles nasceu no continente africano.
As sessões de pretos velhos são marcadas pela calmaria que invade o terreiro. Uma sensação de paz e amor toma conta do ambiente, fazendo com que os filhos de fé sintam essa energia de luz e de sabedoria que se manifesta.
Os atabaques são tocados de maneira mais leve, mais suave. Assim como com qualquer outra entidade, todo o respeito é prestado para com nossos vovôs e vovós. Geralmente, tais entidades chegam arcadas, demonstrando o peso da idade e o sofrimento que tiveram.Os pretos velhos quando manifestados, gostam de sentar em seu “toco” (um banquinho), fumar seu “pito” (cachimbo ou palheiro) e auxiliar aqueles que precisam. Com sábios ensinamentos, sabem tocar na ferida moral de cada filho de fé, ensinando a maneira correta de se viver, qual seja: Com amor ao próximo, com amor em Deus e com a prática constante da caridade.
Os pretos velhos não gostam de luxo. Preferem que seus médiuns estejam com a boa e velha roupa branca, miçanga e muita disposição para ajudar quem precisa. Atuam também no campo da cura, aliviando, com receitas simples e humildes, as dores dos enfermos que batem em nossas portas.
Nossos vovôs e vovós também são “mandigueiros”. Desmancham qualquer magia feita, tiram de cima do obsediado todas as cargas negativas e “maus olhados”, além de abrirem os caminhos e dar muita proteção no dia-a-dia.
Geralmente, utilizam em seus benzimentos e trabalhos a arruda, o guiné, o rosário, o crucifixo, água com mel, vinho, cachaça, velas, fumo, etc.
São entidades ligadas a Linha das Santas Almas e a vibração de Omulú, apesar de existirem pretos e pretas velhas de outros Orixás, como por exemplo, a linha de Quenguelê de onde vêm pretos velhos de Xangô. Sua linha também é conhecida como “Yorimá”.
Os pretos velhos representam a resignação, a humildade, a superação, o amor incondicional, a caridade desinteressada. Atendem a todos, independentemente da cor, classe social e religião e repudiam qualquer forma de promoção e cobrança.
Nossos vovôs e vovós também podem ser o guia chefe de um terreiro e comandar as sessões de desenvolvimento, apesar de tal encargo ser mais comum aos caboclos.
Os pretos velhos também são organizados em falages, nas quais, inúmeros espíritos se agrupam sob o mesmo nome. As mais conhecidas são: Pai Joaquim; Pai Francisco; Pai Maneco; Pai João; Pai José; Pai Mané; Pai Antônio; Pai Roberto; Pai Cipriano; Pai Tomaz; Pai Jobim; Pai Roberto; Pai Guiné; Pai Jacó; Pai Benedito; Rei Congo, Pai Anacleto, Vó Cambinda; Vó Cecília; Vó Maria Conga; Vó Catarina; Vó Ana; Vó Quitéria; Vó Benedita; Vó Cambinda; Vó Rita; Vó Rosa; Tia Catarina, Tia Luiza, Mãe Justina, etc.
Esses nomes são adicionados, geralmente, ao nome do local de onde viveram ou de onde vieram. Por exemplo: Pai João de Angola; Pai José de Aruanda; Mãe Maria de Minas; Pai João do Congo, Pai Cipriano das Almas e assim por diante.
Suas cores são o preto e branco e também o amarelo.
Sua saudação é “Adorei as almas!”
Uma vergonha chamada escravidão!
A escravidão é, sem dúvida, uma mancha que o Brasil levará para sempre em sua história. Pouco se fala, muitos tentam esquecer ou minimizar. Mas o que aconteceu nesse país foi uma das maiores atrocidades que a humanidade já viu.
Negros da costa da África foram arrancados de seu país, de seu continente e trazidos a força para o Brasil e demais países da América, acorrentados como animais, para prestar serviço braçal até a morte aos senhores brancos.
Tiveram suas famílias destruídas. Foram vendidos separadamente e espalhados por esse país. Crianças foram abusadas. Velhos foram mortos. Jovens eram levados para prestar serviço braçal. Apanhavam de chicote, eram mutilados, torturados. Na senzala, local onde se abrigava inúmeros negros, passavam fome, frio e padeciam de várias enfermidades.
Se há algum povo que mereça ser para sempre lembrado com honrarias no Brasil, esse povo é, obviamente, o povo negro que aqui chegou! São eles os verdadeiros heróis de nossa nação!
Pena que muitos não reconhecem esse débito que nossa sociedade possui com os africanos. Muito se homenageia os alemães, ucranianos, italianos e até japoneses que, certamente, também contribuiriam para o progresso do país. Mas e os africanos? Nunca se viu um presidente do Brasil pedindo desculpas aos descendentes africanos pela barbáre que nosso Estado cometeu. Nunca se viu nenhuma festa oficial para comemorar o aniversário da chegada desse povo ao Brasil! Ao contrário, continua sendo disseminado em nossa sociedade um preconceito besta e injustificável.
Claro que o Governo Federal, a partir de 2003 passou a criar políticas públicas para remediar esse débito, como por exemplo, as cotas em Universidades, que são severamente criticados por algumas pessoas “brancas”. Até mesmo um Ministério de Igualdade Racial foi criado.
Mas infelizmente, o preconceito continua. Tudo o que é de origem africana ainda é visto com maus olhos por parte de nossa sociedade.
E é justamente esse preconceito que se reflete hoje na Religião. Por que as religiões Afro-brasileiras são as mais atacadas, difamadas e agredidas pelas seitas judaicas/cristãs?
A resposta é só uma: Preconceito! O Mesmo preconceito e intolerância que existiu quando o primeiro negro aqui pisou, ainda existe, infelizmente, no coração e mente de muitos brasileiros. A idéia de que um “Deus branco” é superior e melhor do que um “Deus negro” é muito difundida em diversas “igrejas” desse país.
Podemos observar na própria história de fundação da Religião de Umbanda, que até mesmo os Centros Espíritas Kardecistas da época, repudiavam – e infelizmente ainda hoje alguns espíritas ainda repudiam - a manifestação de qualquer espírito que dissesse ter sido negro ou índio. Mas porque apenas os doutores europeus de olhos azuis e cabelo loiros poderiam deixar suas mensagens? Será que a cor de um ser humano representa sua evolução?
Discordando disso, O Caboclo das 7 Encruzilhadas, no dia 15 de novembro de 1908, rompeu com o Kardecismo e anunciou a fundação de uma nova religião onde o negro e o índio poderiam se manifestar! Essa religião se chamaria Umbanda e iria acolher a todos, independentemente de cor, classe social e crença. Disse o caboclo “Aprenderemos com os que sabem mais e ensinaremos os que sabem menos”. Logo depois, se manifestou o espírito de um ex-escravo, chamado de Pai Antônio que ao lado do Caboclo das 7 Encruzilhadas deram início aos primeiros fundamentos da Umbanda no Brasil.
O vídeo abaixo, retrata de forma simples tudo o que aconteceu neste país durante a escravidão. Trata-se de uma cantiga de capoeira composta pelo mestre Barrão e Mestre Burgûes.
Semana da Abolição da Escravatura!
13 de maio! Data importante para a história do Brasil e para Umbanda. Em homenagem aos grandes guerreiros que lutaram pela liberdade, postarei uma cantiga de capoeira chamada “Esperança de ser livre” composta por Mestre Barrão.
“Negro escravo,
Foi pego fugindo da senzalaCorrendo nos canaviais
Capturado pelo feitor
Que no tronco o amarrou
E o guerreiro valente gritava.
Derrepente uma voz recuava
Mataram o Rei Zumbi
Assim a notícia chego
E o guerreio
Que nunca chorava
Nesse dia ele choro.
Iê…
Ô valente guerreiro e forte
Não acreditava na sorte
Não tinha medo da morte quando o fato aconteceu
Com a notícia que veio de longe
Dizendo que o Rei Zumbi morreu.
E o guerreiro amarrado no tronco
A Deus pedia proteção
Olhando para cima lamentou
Ainda chorando falo
Ô mataram o Rei Zumbi a esperança de ser livre acabou.
Ô valente guerreio choro
Ê choro choro.
E o valente guerreiro choro (3x)
Ô valente guerreiro e forte
Não acreditava na sorte
Não tinha medo da morte quando o fato aconteceu
Com a notícia que veio de longe
Dizendo que o Rei Zumbi morreu.
E o guerreiro amarrado no tronco
A Deus pedia proteção
Olhando para cima lamentou
Ainda chorando falo
Ô mataram o Rei Zumbi a esperança de ser livre acabou!”